Este artigo não
é um artigo histórico e nem de cunho filosófico, primeiro porque eu não me
julgo um historiador e segundo porque eu também não me julgo um filósofo. Este
artigo é apenas uma observação de um paulista que veio para o nordeste a fim de
pesquisar um assunto pelo qual é apaixonado. Essa paixão é fruto da sua
infância vivida e que agora pende para atingir a maturidade. Na minha infância
eu ouvia meu pai falar todos os dias e quase o dia todo a respeito da marcha da
Primeira Divisão Revolucionária, marcha que é conhecida pelos brasileiros por
Coluna Miguel Costa - Prestes.
É natural,
posteriormente à nossa infância, repetirmos o que nela vivenciamos, por isso
saí do sudeste e vim até o nordeste verificar a passagem de um dos quatro
destacamentos da Coluna Miguel Costa – Prestes, por Crateús, o segundo
destacamento, do coronel João Alberto.
Alguns dias
antes de eu embarcar de São Paulo até Crateús, recebi uma carta do Padre
Geraldinho, sugerindo-me que fizesse uma comparação entre o interior do Estado
de São Paulo – que eu conheço bem – e um dos interiores do Estado do Ceará, que
liga a capital Fortaleza até Crateús. Enquanto o coletivo trafegava sobre a
rodovia que liga a capital ao interior observei atentamente – através da janela
do ônibus – a paisagem que margeia a rodovia. Vislumbrei uma magnífica
paisagem, digna de um estudo mais aprofundado e de uma reavaliação literária.
Essa conclusão a que cheguei se reforçou quando desembarquei em Crateús. Aqui eu
bebi do meu próprio veneno, experimentei a minha ignorância em relação ao que
os livros didáticos do sudeste, o cinema brasileiro e alguns clássicos da nossa
literatura causam à mente de alguns sudestinos.
É mais uma vez a história que grafa em suas páginas de pedra, estórias
que se perpetuam de gerações a gerações em que nada de novo é grafado. Urge que
nessas pedras seja grafada a continuidade da história, porque não é possível
que em pleno século 21, no sudeste, ainda se pense que o atual nordeste
brasileiro é o mesmo nordeste de Euclides da Cunha, Raquel de Queiroz,
Guimarães Rosa, Jorge Amado, Graciliano Ramos e de outros desses clássicos
literários. Já é hora de um novo clássico adentrar às universidades do sudeste
e nos apresentar a atualidade, essa atualidade é um novo nordeste que se
desenvolve a passos rápidos e indica que não pretende parar até alcançar o mais
elevado ponto desta cadeia de montanhas que o cerca. O sudestino precisa ter
acesso a uma outra imagem a respeito do nordestino, a imagem atualizada e por
meio dessa imagem configurarmos a realidade de um novo Brasil: livre, soberano,
igualitário e acima de tudo, democrático.
A célebre frase
de Euclides da Cunha, escrita no século passado é uma frase que em sua
ambigüidade temporal se demonstra presente, o nordestino é sobre tudo um forte.
Forte porque venceu, cresceu, progrediu e se solidificou. Mesmo ciente à
referência de sua imagem no sudeste, emigrou, regressou e agora não volta mais,
pois esse é o pensamento que impera por essa região interiorana do Ceará, que é
Crateús, e diferente do que se pensa no sudeste, essa região do Brasil é
abastecida pelo Rio Poti, que hidrata essas terras impermeáveis e alimenta esse
povo espirituoso, dono de uma cultura pluralista.
Aos artistas do
nordeste, deixo aqui a minha sugestão: escrevam o novo e atualizem os novos, porque
quem quer vender tem que anunciar, quem quer comprar, deseja o belo e é isso o
que é a cidade de Crateús, bonita, bela e abastada.
Artigo publicado no site da Prefeitura de Crateús, na Academia de Letras de Crateús e no jornal da cidade.